Após desafios de 2018, ABCS aponta recuperação na suinocultura
O ano de 2018 foi desafiador para o suinocultor brasileiro. Apesar do aumento do abate em 1 milhão de suínos (2,4%) em relação a 2017, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os resultados foram alarmantes para quem investe na atividade. Este crescimento aliado à redução das exportações em relação a 2017 e o alto custo de produção (milho e farelo de soja), determinou ao produtor margens muito pequenas ou até mesmo negativas ao longo de todo ano. Apesar de um início de ano frustrante tanto nos volumes exportados, quanto no preço do suíno no mercado interno, os meses de fevereiro e março de 2019 trazem uma tendência de recuperação da demanda pela carne suína brasileira acompanhada de uma reação significativa dos preços pagos aos produtores, trazendo otimismo para o setor. Oportunidades no mercado interno e externo Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), no primeiro bimestre de 2019 o Brasil exportou 102,6 mil toneladas de carne suína in natura (5,65% mais que no mesmo período de 2018) com um aumento de 4% na receita (US$). China e Hong Kong lideram as compras e representaram 40,5% deste volume. A Rússia, que retomou recentemente as importações, já ocupa o terceiro lugar com 11 mil toneladas no mesmo período. Um ponto atrativo e que gera grandes expectativas para a cadeia suinícola brasileira é o impacto da Peste Suína Africana (PSA) na China. Embora não sejam números oficiais, agentes do mercado já falam em perdas que superam 20% do plantel de matrizes suínas chinesas. Em um país que produz e consome quase metade de toda carne suína no mundo estes valores são astronômicos e criam oportunidades não somente para o aumento da exportação da carne suína brasileira, como também das outras carnes (frango e bovino), o que indiretamente beneficia a cadeia suinícola. O panorama atual criou uma euforia no mercado que refletiu não somente na valorização de ações das agroindústrias, mas também no mercado doméstico com patamares de preço bem acima do mesmo período do ano passado. Além das questões mercadológicas, a PSA é motivo de preocupação para a suinocultura mundial, com a ameaça de se tornar uma pandemia, de consequências catastróficas para o setor. Novos focos na Ásia, incluindo o Vietnam, que é o sexto maior produtor de suínos do mundo, e a recente tentativa de contrabando de carcaças de suínos da China para os EUA, aumentam o nível de alerta para questões de biosseguridade internacional. Os profissionais do setor precisam redobrar os cuidados relacionados à importação de animais e insumos, além das medidas internas, como o vazio de pessoas que venham de viagens do exterior. O presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), Marcelo Lopes, explica que apesar da possibilidade de aumentar o mercado brasileiro na China seja animadora, não é imediata. “Embora exista uma grande oportunidade de ampliar o embarque de carne suína para a China, é fato que existem fatores limitantes a este crescimento, como a necessidade de liberar novas plantas, o que demanda tempo e o cumprimento de exigências técnicas e burocráticas que acabam restringindo o número de indústrias que poderiam acessar este mercado”, explica. Autossuficiência russa A Rússia que já representou mais de 40% das nossas exportações (em torno de 250 mil toneladas em 2017) parece realmente que está alcançando a autossuficiência na produção de carne suína, bem mais rápido do que se imaginava. Segundo o USDA, no ano de 2018 a Rússia importou ao todo 60 mil toneladas, uma redução de 84% em relação ao ano anterior (375 mil ton). Segundo o USDA e a consultoria MBAgro, embora o Brasil tenha exportado 11 mil toneladas para este destino no primeiro bimestre de 2019, as projeções são de que a Rússia não importe mais do que 40 mil toneladas ao longo do ano. De acordo com o presidente da ABCS, como as exigências técnicas para exportar para a Rússia e a China são similares (incluindo a restrição a ractopamina), em tese, seria fácil substituir um destino pelo outro, desde que todo o “ritual” de missões, auditorias e liberações de plantas seja seguido. “Se por um lado, em 2018 tivemos uma redução do volume exportado em relação ao ano anterior e a perda temporária de um grande comprador (Rússia) que agora volta comprando menos, por outro lado, passamos a vender para 96 destinos diferentes em 2018, contra 63 em 2017. Ou seja, ampliamos nossa abrangência, além de iniciarmos embarques para o quarto maior importador de carne suína, a Coreia do Sul”. Segundo ele, estes fatores, aliados à real possibilidade de aumento significativo de vendas para a China e a possibilidade de acessar outro grande comprador, o México, traz bastante otimismo em relação ao crescimento dos volumes exportados em 2019 com relação ao ano passado. Custo de produção (insumos) Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) mostram que embora tenha havido uma pequena quebra na safra de soja, devido a estiagens prolongadas em determinados momentos, o que projeta uma redução de 4,9% deste grão em relação ao ano passado, o preço apresenta-se estável e em compasso de espera em relação às negociações entre EUA e China. Independente desta questão, não se espera grandes sobressaltos no preço da soja e seus derivados, não sendo motivo de preocupação para quem consome o farelo de soja. Por outro lado, o plantio da segunda safra (safrinha) se deu bem mais cedo que nos anos anteriores, determinando mais segurança a estas culturas, especialmente o milho que está muito concentrado na safrinha. De acordo com o sexto levantamento de grãos da CONAB referente a safra 2018/19, espera-se que a produção da segunda safra de milho chegue a 66,6 milhões de toneladas, volume 23,6% superior ao registrado na segunda safra do ano passado. Com mais de 90% das lavouras já plantadas, a expectativa é de que o total produzido, somando as duas safras de milho chegue a 92 milhões de toneladas, ou seja, 15% (12 milhões de toneladas) a mais do que na safra 2017/18, segundo dados da MBAgro. Mesmo com volumes relativamente elevados de exportação de milho nos últimos meses (gráfico 3), espera-se uma alta oferta deste grão para a metade do ano, quando será colhida grande parte da segunda safra, o que deverá reduzir significativa os preços do milho, impactando diretamente no custo de produção de suínos. “Porém, é preciso ficar atento aos preços futuros ora ofertados, pois nos últimos anos os agricultores, mais capitalizados, estão segurando as vendas deste cereal quando o preço cai a determinados patamares”, explica Marcelo Lopes. Quais as estratégias do produtor para este ano? Está muito claro que o mercado de exportação de suínos este ano voltará a ser um aliado importante, ajudando a enxugar o mercado interno. Também é provável que o custo de produção, especialmente relacionado ao milho seja mais baixo que em 2018. Aliado a isso, a economia doméstica, parece reagir, com expectativa de crescimento do PIB ao redor de 2%. “É hora de recuperar as margens negativas e compensar crises sucessivas de preço e custo enfrentadas nos últimos anos. As sobras de caixa devem ser destinadas ao pagamento das dívidas, à compra estratégica de insumos (milho), à agregação de tecnologia e à manutenção estrutural da granja e dos planteis, com reposições em dia, fatores que garantem a sustentabilidade e a competitividade”, pondera Marcelo Lopes. Por último, depois de todas estas prioridades é que o produtor deve pensar em ampliar o negócio, ciente de que o mercado é soberano e que a lei da oferta e procura é implacável. Fonte: Suinocultura Industrial
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